Lágrima de Preta
Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
António Gedeão
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Recentemente, após a exibição nos noticiários televisivos de imagens de uma agressão passada num metro espanhol, em que um individuo espanca, sem qualquer justificação, uma rapariga africana, ficámos escandalizados com tamanha barbaridade. Julgamos de imediato o indivíduo e consideramos que qualquer um de nós seria incapaz de ter tais atitudes.
Mas não é verdade. Sem desculpar, de forma alguma o energúmeno das imagens, não podemos esquecer que é a sociedade ocidental e, particularmente cada um de nós que tem contribuído para que as desigualdades no mundo se agravem. De que forma? Dou-vos apenas alguns exemplos:
- Quando os países mais ricos não contribuem para o desenvolvimento dos mais pobres;
- Quando adquirimos qualquer objecto olhando apenas aos preços e sem nos preocuparmos com questões como "aonde foi feito", "como foi feito" e "à custa de que trabalho foi feito".
São atitudes destas que levam a que em muitas zonas do mundo as condições de sobrevivência sejam dramáticas e o esclavagismo uma realidade. É evidente que estas condições são um terreno fértil para o crescimento de sentimentos que consideramos inumanos.
Mas não é verdade. Sem desculpar, de forma alguma o energúmeno das imagens, não podemos esquecer que é a sociedade ocidental e, particularmente cada um de nós que tem contribuído para que as desigualdades no mundo se agravem. De que forma? Dou-vos apenas alguns exemplos:
- Quando os países mais ricos não contribuem para o desenvolvimento dos mais pobres;
- Quando adquirimos qualquer objecto olhando apenas aos preços e sem nos preocuparmos com questões como "aonde foi feito", "como foi feito" e "à custa de que trabalho foi feito".
São atitudes destas que levam a que em muitas zonas do mundo as condições de sobrevivência sejam dramáticas e o esclavagismo uma realidade. É evidente que estas condições são um terreno fértil para o crescimento de sentimentos que consideramos inumanos.
O racismo é um deles.
2 comentários:
Concordo inteiramente quando afirma «que cada um de nós tem contribuído para que as desigualdades no mundo se agravem». O racismo e outras formas de discriminação são apenas consequências de uma sociedade que está doente, imersa no profundo egoismo, mergulhada na superficialidade, na aparência...Basta pensar nas notícias que nos invadem através dos ecrãs de televisão: seja na justiça, onde a equidade se distancia em nome de interesses/poder, na educação,onde os professores têm sido constantemente postergados e desautorizados do importante papel que têm na sociedade, na saúde onde os custos-benefícios parecem ser a triagem nas urgências, deixando os mais idosos sem direito aos cuidados de saúde que deveriam ter,etc Tudo isto me faz interregorar se é esta sociedade que desejamos continuar a construir e onde pretendemos viver.
Descobri o seu blog por acaso e está de parabéns: pela sensibilidade no tratamento dos temas, pela harmonia e delicadeza das imagens.
Claúdia
Subscrevo inteiramente a tua posição.
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